Recomendo também esta página:

Recomendo também esta página:
Autor: Nelson S. Lima (clique na imagem)

Siga-me no Facebook:


Isto é a ATENÇÃO FASCINADA (Nelson S. Lima)


A atenção fascinada recebe, por vezes, outros nomes, mas sempre gostei desta terminologia, talvez pela associação com o “estado de fascínio” (praticamente o mesmo que “estado de fluxo”).

De que se trata? Este tipo de atenção corresponde a um estado de focalização intenso, seletivo, com exclusão de outros pontos de interesse (áreas negligenciadas) pois a nossa concentração fica “prisioneira” apenas de um alvo que tanto pode ser um acontecimento como uma pessoa, um filme ou uma série de pensamentos em colmeia.

O que são “pensamentos em colmeia”? Eu chamo “pensamentos em colmeia” a todos aqueles que giram em torno de um tema. É difícil isolarmos um pensamento e quando pensamos em algo (ou em alguém) há sempre outros pensamentos que se juntam ao primeiro e formam então a “colmeia”. 

Quando são patológicos (como nos pensamentos depressivos) eles tornam-se “ruminantes” pois a pessoa não pensa noutra coisa, de forma insistente e consistente. Infelizmente, não são pensamentos felizes devido ao estado emocional do doente depressivo.

Voltando à atenção fascinada. Ela acontece muitas vezes por dia em crianças. Surge quando estão focalizadas em algo de forma tão intensa e feliz que negligenciam e até esquecem tudo à sua volta. Estão “vidradas” (como se diz em Portugal), quase, ou mesmo, em transe hipnótico (penso que chegam, muitas vezes, a estar nesse nível).

A nós, adultos, acontece o mesmo mas em menor quantidade pois a nossa vida dá-nos pouco espaço de manobra (e tempo) para entrarmos em estado de atenção fascinada. Ela acontece nos chamados “estados de fluxo” em que ficamos tão maravilhosamente concentrados em algo que, naqueles momentos, nada mais existe no mundo, nem nós mesmos, pois a consciência do EU, afasta-se e ficamos num estado desprendido, quase como na meditação profunda (só que é diferente).

A atenção fascinada tem uma vantagem e uma desvantagem (pelo menos). A vantagem que destaco é que ela é altamente relaxante para a mente pois permite-nos usufruir de uma liberdade única. É um “estado de graça”. É puro fascínio. 

A desvantagem é que essa atenção fascinada pode conduzir-nos a decisões precipitadas como, por exemplo, repetir a experiência (nem sempre desejável) ou adquirir o objecto do fascínio (só pensamos nisso a partir desse momento e, por vezes, obsessivamente). Esta atenção fascinada acontece também nos shopping centers e os técnicos de marketing sabem induzi-la nos consumidores. Com a atenção fascinada ligada nós acabamos por nos entusiasmar com produtos que depois só nos resta adquirirmos.

Quando nos apaixonamos verdadeiramente, passamos também por este tipo de atenção ao focalizarmo-nos na pessoa amada. Estamos fascinados com ela. Até entramos em transe sobretudo quando é o primeiro amor.

Quando o fascínio acaba, entramos noutra sintonia de atenção. É que eu ainda não disse que a atenção fascinada tem os seus limites de tempo. Apesar de prazerosa ela exige bastante do cérebro. Voltando ao exemplo das crianças, reparem que elas ficam horas a brincar com coisinhas simples mas depois mudam de assunto. E nós, adultos, também fazemos o mesmo. A atenção concentrada (fascinada ou não) consome bastante energia.

Seja como for é um dos estados fantásticos de consciência que todo o ser humano pode e deve experimentar. Para bem da sua saúde (sobretudo emocional).

Deixe-se, pois, maravilhar! Há muitas coisas fascinantes na vida que merecem a nossa atenção.

Nelson S. Lima 

DIFICULDADE OU INCAPACIDADE?

O insucesso escolar tem, muitas vezes, como causa mais saliente o que se generalizou chamar "dificuldades de aprendizagem". Não obstante, sob o ponto de vista científico, as dificuldades de aprendizagem incluem situações mais graves e que se denominam "incapacidades de aprendizagem".
Estas penalizam muito mais os alunos porque, logo à partida, eles enfrentam algum tipo de problema geralmente orgânico, o que pode dificultar em muito qualquer tentativa de aprendizagem.
O diagnóstico é, nestas situações, determinante mas é também onde mais falhas se cometem, especialmente quando ele é realizado por pessoas não habilitadas para o fazer.
Tenho assistido a situações degradantes de atribuição de culpas aos alunos (como sendo preguiçosos, por exemplo) quando, na realidade, pode ser um qualquer problema neural (o que, por si só, acolhe uma variedade imensa de problemas).
Esta palestra, que tenho vindo a realizar em escolas e outros espaços, já foi assistida por mais de 6 mil pessoas, sobretudo pais e professores.
Contato para palestras em Portugal e Brasil: nelsonslima@yahoo.co.uk
Nelson S. Lima

FOCO NA EDUCAÇÃO - Palestras


A neuropsicologia - ramo das neurociências que estuda a relação entre o cérebro e os eventos e faculdades mentais - tem uma das mais fecundas e bem consolidadas visões sobre os diferentes problemas de atenção que afetam uma grande maioria dos alunos em idades escolares e que não se resumem ao já muito debatido TDA/H.
Os problemas de atenção podem ser ocasionais e contextuais como também podem ser causados por défices neurológicos nem sempre detetados e, por vezes, menosprezados o que tem como consequência o eternizar de algumas situações de insucesso escolar.
Neste ciclo de palestras, procuro mostrar como funcionam os centros da atenção, os vários tipos de atenção, o diagnóstico clínico e as soluções possíveis.
De interesse para pais, professores, psicólogos, pediatras e outros agentes de educação.
Nelson S Lima
Contatos:
nelsonslima@yahoo.co.uk
info@unifuturo.edu.br

INTEREDUCATION 2016 (minha intervenção)


É uma grande honra para mim poder estar de novo neste congresso a convite da Unifuturo, na pessoa de meu querido amigo e notável reitor Professor Ricardo Monteiro a quem envio meus cumprimentos e, sobretudo, o manifesto da minha gratidão.

Eu hoje venho aqui com um propósito. Focar a vossa atenção para o papel das emoções nas aprendizagens.  

Eu tive sempre um enorme fascínio por aquilo que eu chamo "ciência da aprendizagem". É algo que vem desde os meus tempos de infância e mais adiante eu vou contar a vocês porquê.

Eu sou um verdadeiro apaixonado por tudo o que represente evolução. Desde criança que, embora eu nunca sentisse o chamamento para o ensino, eu me deslumbro com o fato de podermos perceber, interpretar e registrar conhecimentos ao longo de toda a vida, por muito longa que ela seja. Me recordo que meus avós, pessoas que tiveram vidas longas e maravilhosas e que me educaram (meus pais viviam no Brasil), tendo tido uma brevíssima aprendizagem escolar há mais de 100 anos, me encantavam com os relatos detalhados de seus conhecimentos, em especial os registrados em suas memórias autobiográficas. Foram magníficos aprendizes e deixaram um legado a todos os seus netos (5) que foi o amor pela busca da sabedoria e da maturidade.   

Aqui na Europa eu tenho trabalhado nos anos mais recentes com pessoas idosas que, ao contrário de meus avós, entretanto já falecidos, apresentam dificuldades de memória e de novas aprendizagens, aliás elas vivem perdendo essa capacidade.

Minha função é fazer o diagnóstico de suas perturbações e aplicar nelas terapias de estimulação cognitiva para que possam retardar o envelhecimento cerebral e cognitivo, e até mesmo recuperar algumas capacidades que se julgavam comprometidas. Tem sido uma atividade muito gratificante.

Antes disso, e durante mais de 25 anos, enquanto neuropsicólogo clínico, atendi muitos casos de problemas relacionados com dificuldades de aprendizagem e incapacidades de aprendizagem - dois problemas que afetam milhões de alunos em todo o mundo, independentemente dos países e do sistemas de ensino, e que conduzem ao fracasso académico.

Ao longo daquele período de tempo, estive com milhares de professores de mais de 200 escolas de Portugal, os quais tiveram a oportunidade de me ouvir falar sobre insucesso escolar relacionado com distúrbios de aprendizagem de seus alunos.

Também no meu consultório privado recebi milhares de crianças e adolescentes por causa de fracos desempenhos académicos, muitas vezes incompatíveis com suas altas capacidades cognitivas e também muitos adultos sofrendo problemas de memória, de concentração e de evocação de lembranças. As vítimas de Alzheimer eram as que mais me impressionavam. Mas também atendi indivíduos estressados, pessoas com manifesta ansiedade descontrolada, depressões e ainda outros com problemas neuropsicológicos mais ou menos graves e preocupantes.

Posso dizer, por conseguinte, que fui testemunha de muitíssimas situações que direta e indiretamente afetavam a capacidade de aprender e de recordar, presentes tanto em cérebros saudáveis como em cérebros doentes.

Como é óbvio, o foco principal dos problemas estava no mau funcionamento de suas memórias e no próprio processamento da informação, que é determinante para as diversas realizações mentais, como o raciocínio. Elas estavam, por alguma razão, inibidas de darem o seu melhor por mais esforços que fizessem.

Pude concluir que as pessoas, seja qual for sua idade, sua educação, seu status social e trabalho, podem ter problemas de memória e distúrbios de aprendizagem devido a uma grande variedade de causas e situações.

Aproveito para esclarecer uma situação: clinicamente, em neuropsicologia, nós consideramos dois tipos de problemas distintos relacionados com a aprendizagem. Um , o mais frequente, é a dificuldade de aprendizagem e o outro, mais complexo, é a incapacidade de aprendizagem.

A dificuldade de aprendizagem nos remete para problemas os mais diversos, psicológicos, sociais, familiares e ambientais, que impedem, inibem ou perturbam o esforço de aprender. A ansiedade, a falta de sono, a alimentação desadequada e a falta de interesse estão entre as causas mais conhecidas, geralmente se acumulando. Conhecem-se mais de 100 fatores possíveis onde podemos destacar falhas nos métodos de ensino, conflitos familiares e muitos outros.

Já a incapacidade de aprendizagem pode ser causada por problemas neurológicos, défices cognitivos, lesões traumáticas, diversas doenças e disfunções várias que tornam difícil ou perturbar a aquisição de novos saberes. A discalculia, a dislexia, certos tipos de hiperatividade, de impulsividade e défices de atenção são apenas alguns dos exemplos mais frequentes mas nem sempre corretamente diagnosticados. A questão do diagnóstico tem sido, aliás, ele mesmo um problema pois nem sempre é de fácil compreensão por haver imensos outros fatores complicando a observação médica.

No tempo em que eu andava nos primeiros anos de escola esta me assustava severamente. Havia muito violência entre os alunos e o ensino era autoritário, sendo o castigo físico muito frequente. A escola me levou à descoberta do verdadeiro medo, provocado não por monstros imaginários mas por pessoas.

Isto remete a minha a minha atenção para o papel das emoções nas aprendizagens. Esse papel pode ser profundamente negativo e debilitante como pode ser um acelerador do conhecimento. A criança feliz, com suas emoções equilibradas, sem extremos, está mais apta a aprender sem dificuldade desde que esteja livre de alguma situação contrária.

A motivação para estudar e aprender com sucesso fica facilitada graças a diversas circunstâncias onde a positividade está presente. A família e as instituições de ensino devem providenciar para que a criança goste de aprender. Isso implica promover a abertura mental para a curiosidade e o derrube do desconhecido. A criança que gosta de aprender facilita o seu próprio ensino e torna-se facilmente autodidata. O professor, sem perder o seu papel de facilitador das aprendizagens, deverá situar-se algures entre o aluno e o seu meio familiar.

O mundo mudou e hoje a escola não é mais aquela do meu tempo de infância. Não obstante, continua a produzir alunos sem motivação, professores cansados e a alimentar o insucesso escolar. As emoções continuam no centro da maioria dos problemas de aprendizagem.

Somos o animal com mais emoções. Somos o animal mais social, mesmo quando provocamos conflitos da mais diversa ordem. As emoções ajudam-nos a interpretar o mundo. Se estamos tristes, o mundo parece desinteressante. Se estamos apáticos, o mundo parece banal. Se estamos felizes, o mundo parece extraordinário.

É muito importante que às crianças (e também aos adultos que continuam a crescer) sejam proporcionadas condições para que sua inteligência seja bem sucedida e se tornem alunos apaixonados pela aventura do conhecimento.

Compreender e respeitar as nossas emoções e as emoções dos outros é um processo que deve ser transmitido e treinado o mais cedo possível. Só assim assistiremos a uma renovação, talvez mesmo uma revolução, em tudo o que diga respeito a qualquer sistema de ensino voltado para o futuro onde haverá uma forme insaciável de pensadores. O mundo precisa de pensadores. Pensadores humanistas e pragmáticos que vençam os novos e enormes desafios que se colocam ao mundo, ao nosso mundo, e ao mundo do futuro.

Me permitam citar um grande mestre meu, Dalai Lama, quando se dirigiu, um dia aos professores:
"Façam um esforço de não só transmitirem um saber, mas também de despertarem o espírito dos vossos alunos para as suas qualidades humanas fundamentais, tais como a bondade, a compaixão, a capacidade de perdoar ou o espírito de bom entendimento. Não reservem esses temas para a moral tradicional ou para a religião. Mostrem-lhes que essas qualidades são pura e simplesmente indispensáveis à felicidade e à sobrevivência deste mundo".

Termino minha intervenção com uma palavra de apoio e incitamento a quem, como eu, sofreu muitas emoções negativas durante anos e, não obstante, sobreviveu a tudo e a todos.

Busquemos dentro de nós aquela energia que é própria da vida e que dá vida à vida. Coloquêmo-la ao serviço dos nossos objetivos, projetos e sonhos, e compartilhemos toda essa força com os outros e com o mundo.

Isso é também um dos motivos porque a natureza nos conferiu tantas emoções: para podermos progredir e evoluir. E fixemos esta ideia: todo o progresso, toda a evolução, é um processo de aprendizagem. Toda a aprendizagem é uma adaptação. Ela modifica a nossa vida, modificando o próprio cérebro.

Devemos estar sempre abertos para novos conhecimentos. Não esperar que eles cheguem até nós e decididamente tornarmo-nos em exploradores do desconhecido para que continuemos nossa própria evolução pessoal e contagiarmos os outros com a nossa auto-motivação e alegria de aprender.

Nossos alunos, nossos filhos, nossos netos, nossos amigos, acabarão por nos imitar. E o mundo poderá evoluir por melhores caminhos rumo a diferentes futuros, mais promissores.

Sejam felizes e espalhem as vossas emoções mais positivas bem assim como os vossos conhecimentos por onde quer que estejam. O amor, a felicidade e o conhecimento devem ser compartilhados. Só assim haverá evolução.

Nelson S. Lima
Investigador

Educar e desenvolver o juizo crítico


O chamado "juízo crítico" é uma das mais importantes capacidades que o cérebro nos oferece e que é parte da inteligência analítica, da lucidez e do auto-conhecimento. É susceptível de treino!

Ele realiza-se através de uma opinião, de uma conclusão baseada em informação acerca de algo e de uma decisão segura. É um fenómeno subjectivo que depende da capacidade de usar o pensamento abstracto.

É afectado pela quantidade e a qualidade da informação disponível acerca de uma decisão a tomar mas também pela personalidade, o auto-conhecimento, as nossas experiências, os nossos sentimentos, as nossas outras capacidades cognitivas, aspetos culturais, sub-culturais e sociais e ainda quaisquer outros factores extrínsecos que afectem os possíveis resultados de uma decisão.

Ter um bom "juizo crítico" é estar capacitado para entender com pragmatismo e sentido crítico o que se passa na nossa vida (e o que temos de decidir) e no resto das coisas em que estamos envolvidos (projetos, trabalhos com equipa, avaliação de situações, opções, etc.).

Baixo juízo crítico, por sua vez, está relacionado com insensatez, imprudência, impulsividade não-crítica, intolerância, dependência, etc.

Pode o juízo crítico ser desenvolvido? Pode. E deve ser treinado e praticado na escola desde tenra idade.

Infelizmente isso não está previsto no ensino (ou, se está, não é adequadamente promovido nos alunos). E é causa (geralmente ignorada) de muito insucesso escolar e comportamentos desajustados (ou seja, não inteligentes).

Desenvolver o juizo crítico
O melhor caminho é o da aprendizagem e adoção de hábitos cognitivos mas também operativos (executivos e práticos), ou seja, aprender a pensar criticamente, com boa regulação das emoções e um bom diálogo interior (a auto-conversa).

O nosso cérebro é uma caixinha de surpresas. Como sistema operativo ele interpreta a realidade conforme uma enormidade de fatores - que vão desde os genes até à educação e à nossa interação com aquilo que chamamos o "mundo real".

Criar bons hábitos mentais e boas práticas comportamentais têm como ponto de partida um cérebro ótimo (tanto quanto possível).

Esse estado ótimo depende muito do que fazemos com o nosso organismo o que respeita à alimentação, ao sono, à atividade física (que tem um tremendo impacto na saúde do cérebro podendo até aumentar a sua longevidade dinâmica) e a tudo o resto que proteja e reforce nosso órgão central (e o sistema nervoso em geral).

Finalmente, a educação é um recurso extraordinário para levarmos nosso juízo crítico ao seu melhor. O cérebro - tal como o pensamento - educa-se. É uma das maravilhas da natureza. Sendo ele quem nos atribui a consciência de nosso EU permite também que seja objeto de treino e educação.

Ter um bom juízo crítico é levar o cérebro (sobretudo sua parte emocional e executiva) ao máximo de suas capacidades. É o aproveitar de todos os recursos disponíveis nas grandes redes de neurónios que fazem dele uma estrutura inteligentíssima.

Promova a saúde cerebral e treine a sua inteligência das crianças. São vários os processos e diversos os caminhos.

Veja as características da criança e do adolescente dotados de bom juizo crítico:

- revela uma atitude de constante curiosidade intelectual;
- desenvolve a crítica de si mesmo e dos outros;
- gosta de investigar e fazer muitas perguntas;
- esforça-se por compreender os princípios gerais das coisas;
- não é propensa a aceitar afirmações, respostas e avaliações superficiais;
- revela habilidade na compreensão da estrutura de argumentos em linguagem natural;
- é capaz de fazer a distinção entre questões de facto, de valor e questões conceituais;
- mostra habilidade para penetrar até ao cerne de uma discussão ou debate;
- tem geralmente um bom sentido de humor (é otimista).

Já viu as pistas? Tudo isto pode ser aprendido, treinado e desenvolvido. Conduz à maturidade e a comportamentos inteligentes.

Nelson S Lima

Quando os nossos filhos se apaixonam!

A qualidade dos relacionamentos 
amorosos dos adolescentes e dos jovens adultos 
depende muito dos pais e do ambiente familiar.
As crianças que se sentem seguras e 

protegidas pela família têm mais hipóteses de 
serem felizes nas suas relações amorosas e 
de sofrerem menos quando há rompimento ou divórcio.
Já os filhos que se sintam abandonados e 

desprotegidos tendem a dar menos valor ao 
enamoramento e a centrarem-se mais nas 
relações dominadas pelo prazer sexual, 
não conseguindo facilmente estabelecer relações 
amorosas plenas.
Nelson S. Lima

AS CRIANÇAS DENTRO DE 15 ANOS

Estamos a prepará-los bem?

Será que o ensino actual, imaginado, pensado e estruturado para a defunta sociedade fabril ainda serve para a sociedade da informação? Os estudiosos do assunto dizem que não, mesmo nos Estados Unidos.

As exigências intelectuais do século XXI são diferentes daquelas que serviram (em parte) para nós, pais. Mas o pior está para vir. Dentro de 5 ou 10 anos a sociedade humana estará ainda mais mudada do que hoje. A nivel do mercado do trabalho as alterações vão continuar de forma imparável. As novas tecnologias, que terão repercussão em todos os sectores da nossa vida, vão continuar a surpreender-nos com desenvolvimentos inesperados. A ciência aprofundará, cada vez mais, domínios que hoje estão ainda numa fase de descoberta.

A velocidade vertiginosa de transformações que estão a ocorrer nos países ocidentais, muito marcadas pela globalização e o desenvolvimento tecnológico, fizeram disparar os estudos sobre o futuro a médio prazo (5 a 15 anos) por parte de muitos governos e grandes empresas que pretendem colher o máximo de informações que lhes permitam estar preparados, com a maior antecipação possível, para os novos desafios ditados pela sociedade da Informação.

O tempo em que as mudanças sociais, económicas e tecnológicas ocorriam a um ritmo que permitia fazer previsões com algum nível de certeza quanto aos cenários futuros terminou. A velocidade tenderá a aumentar mais ainda e algumas coisas se sabem já. Uma delas prende-se com o trabalho. Neste sector nada será como dantes.

Os diversos estudos conhecidos alertam para o facto do ensino não estar a preparar devidamente as crianças e os jovens para o futuro daqui a 10 ou 15 anos. Há novas exigências de competitividade, talento e inteligência que não estão a ser levadas em conta. A escola actual não é compatível com a sociedade para onde está a lançar os alunos.

Nelson S. Lima 

O ENSINO E A SÍNDROME DO LOGOS ESTÉRIL


Um dos grandes contributos do psicólogo Howard Gardner para a nossa compreenção da diversidade da natureza humana foi a sua teoria das Inteligências Múltiplas. Ele nos fez ver que a inteligência humana não podia ser entendida plenamente senão através de uma visão multifocal da mesma. Na altura ele proclamou que havia 7 inteligências distintas tais como a inteligência lógico-matemática, a inteligência musical ou a inteligência social. Cada ser humano teria então diferentes "habilidades" naturais que influenciavam a sua prestação profissional, social, etc. Mais tarde ele descobriria outras inteligências.

O que importa aqui salientar é o facto de cada ser humano nascer com potencialidades distintas, mesmo no domínio da inteligência que já não fica limitada ao valor de um Q.I. mas que se pode exprimir através de diferentes possibilidades, aptidões e talentos. O Q.I. deixou de servir como artefacto de diferenciação pois se uma pessoa pode ser exímia no raciocínio analítico e matemático outra pode revelar-se de forma notável na produção criativa e artística.

Infelizmente e apesar de já terem passado muitos anos sobre a divulgação da teoria das inteligências múltiplas, as nossas escolas continuam a ignorar tudo isso. Aliás, poucos professores conhecem inteiramente aquela teoria e muitos menos a sabem aplicar. E nem podem. Não podem porque o ensino ainda está cada vez mais massificado, desrespeitando a natureza distinta do intelecto de cada aluno.

De forma que todos aprendem o mesmo e, pior ainda, aprendem muito mal. Aprendem por via da recepção passiva de conhecimentos que os professores metodicamente transmitem, repetindo em cada época escolar as mesmas coisas às novas turmas de alunos que vão chegando dos anos anteriores.

Isto leva a uma situação muito dramática: o desrespeito pelos talentos particulares de cada aluno e a imposição de um ensino unifocal, engessado, memorativo, passivo e repetitivo. A escola, em vez de formar pensadores, arrasa com a inteligência dos alunos, torna-os repetidores de frases feitas, nomes, datas, definições, por vezes retrógradas sobre o Mundo.

Augusto Cury, também muito sensível a este problema, escreve que isto trouxe "duas das maiores drogas da inteligência humana: a massificação da cultura e do pensamento". Estas "drogas", "não conseguem jamais conter a diversidade de pensamentos" que existe em toda a humanidade "mas engessa a liberdade, a plasticidade, a criatividade da construção multifocal dos pensamentos, encerrando a inteligência humana num cárcere". Isto conduz ao que A. Cury chama de "mal do logos estéril".

Que síndrome é esta? Cury define-o como doença social com sintomas bem determinados: a vítima torna-se num espectador passivo daquilo que aprende por transmissão; incorpora os novos conhecimentos sem prazer, sem crítica, sem desafio, sem aventura; vê sua capacidade de pensar reduzida e de criar; diminui a sua consciência política e social; utiliza o conhecimento adquirido apenas como ferramenta profissionalizante para fins próprios (ganhar dinheiro, por exemplo).

Nelson S Lima

EDUCAÇÃO INTELIGENTE


A felicidade dos nossos filhos


A educação actual força-nos a aprender cada vez mais olhando o mundo em volta: ler livros, ouvir professores, acolher os conselhos dos pais, imitar os outros, seguir os líderes. Ao fim de um tempo, as nossas aprendizagens tornam-se num depósito acumulado de coisas que recolhemos no exterior de nós mesmos.

Passamos a vida olhando para fora. Usamos muito os olhos e os ouvidos. A nossa memória está repleta de mensagens que os sentidos captaram. Mas quase nada aprendemos a olhar para nós mesmos, para além do cabelo e da pele que nos cobre e protege o corpo.

Uma lenda indiana diz que Deus escondeu a felicidade no sítio mais inacessível do Universo: não no fim do Mundo, não na montanha mais alta, nem tão pouco nos abismos marinhos. Escondeu-a dentro de nós mesmos. É lá que ela reside desde que nascemos e por isso quanto mais nos concentramos no mundo que nos rodeia menos somos capazes de perceber que o nosso bem-estar, o nosso equilíbrio, a nossa harmonia, enfim, a nossa felicidade está cá dentro, tem de vir de dentro para fora e não no sentido contrário.

Por muito que olhemos ao espelho não a detectamos. Por muito que aprendamos nos livros não a descobrimos ali. E, assim, distraídos numa sociedade que é cada vez mais cheia de imagem e cor, não nos ocorre que as primeiras e mais importantes aprendizagens devem ser acerca de nós próprios. A escola não nos ensina a pensar sobre nós. Não nos ensina a praticar o auto-conhecimento. Por isso e muito rapidamente começamos a seguir os outros, a imitar os outros. O nosso Eu, em vez de se expandir, fica restringido a um punhado de algumas ideias, por vezes vagas, de quem somos.

Ensinemos pois aos nossos filhos a pensar sobre eles próprios, sobre os seus sentimentos e pensamentos para que possam crescer autoconhecendo-se, expandindo a mente e a inteligência, desenvolvendo um auto-conceito forte e saudável. E, já agora, façamos o mesmo. Talvez descubramos que sabemos ainda muito pouco sobre quem somos, realmente.

Nelson S Lima

Défice de Atenção: compreenda o problema!

O "défice de atenção" é dificuldade em "sustentar" a atenção e que tem vindo a aumentar, incluindo entre os adultos. Mas há pessoas que sofrem de problemas mais graves como a "hipoprosexia" (diminuição global da atenção) ou a "aprosexia" (completa incapacidade de concentração) - patologias que são já do domínio médico.

A concentração é apenas um tipo de atenção. É um trabalho que executamos utilizando uma zona frontal do cérebro e que exige tenacidade e capacidade de sustentação. Para que sejamos capazes de usar a concentração temos de socorrer-nos da capacidade de auto-controlo mental, também chamado "domínio cognitivo".

O saber gerir a nossa atenção exige disciplina e uma boa auto-consciência. Repare-se que existem diferentes dimensões e características da atenção: por exemplo, em termos de amplitude, ela vai desde a "atenção negligente" (pouco esforçada) até à "atenção fascinada" (uma verdadeira hiperconcentração).

A atenção envolve os sentidos (os mais solicitados são a visão e a audição) mas também os estados emocionais, a saúde do cérebro (e do corpo em geral) e até a personalidade e o temperamento, passando pela motivação e os contextos e circunstâncias em que a usamos.

O tão falado "défice de atenção" é uma das perturbações desta capacidade mental. Mas há pessoas que sofrem de problemas mais graves como a "hipoprosexia" (diminuição global da atenção) ou a "aprosexia" (completa incapacidade de concentração) - patologias são já do domínio médico.

No cérebro existem 2 grandes sistemas de atenção: um localizado nas zonas mais profundas e antigas do cérebro (responsável pela vigilância do que se passa no interior do nosso corpo e no meio exterior, trabalhando mesmo quando estamos a dormir) e outro que se desenvolveu milhões de anos mais tarde e que está na parte superior e frontal do cérebro (o chamado "cérebro executivo" que nos permite a realização das operações mentais mais complexas como o pensamento reflexivo e analítico). Ambos os sistemas envolvem, por fim, o sistema límbico (onde se cruzam as emoções). Veja a ilustração:


TREINANDO A CRIATIVIDADE NA ESCOLA

O QUE É O SERENDIPISMO?

Desinibição, curiosidade, elevada inteligência e uma enorme capacidade da chamada "memória de trabalho" (working memory) podem constituir as bases necessárias para ocorrer o processo criativo chamado "serendipismo".

O "serendipismo" é uma forma de criatividade que é despoletada por uma mente aberta para múltiplas possibilidades. O nome deriva de um conto do século XVIII escrito por Horace Walpole. Envolvia três príncipes de uma ilha que supostamente é hoje o Sri Lanka (no sul da Índia) e que se viam frequentemente surpreendidos com situações que tinham de ser solucionadas com grande imaginação e inteligência para poderem salvar-se dos potenciais perigos.

Considero o "serendipismo" uma das formas mais deliciosas da criatividade humana pois faz com que a imaginação se solte completamente e dê origem às mais diversas ideias. O acaso e a sorte são fatores a ter em consideração. Os criativos tendem a ver nestes fatores uma fonte de inspiração.
A verdade é que a história da criatividade está cheia de exemplos de "serendipismo" - algo que poderia (deveria) ser treinado nas escolas, desde a mais tenra idade.

Sabia que as crianças com menos de 4-5 anos de idade costumam revelar grande capacidade para este tipo de criatividade? Lembremo-nos das brincadeiras da nossa infância onde a imaginação fervilhava de euforia!

Nelson S Lima

Estimular a mente dos nossos filhos!

A maioria das crianças têm um cérebro maravilhoso dotado de muitas aptidões e talentos. O seu aproveitamento, porém, depende muito da estimulação e da qualidade de vida que tiver ao longo dos primeiros anos.

O cérebro é um órgão muito complexo. Ele acompanha a criança desde os primeiros meses de gestação e quando ela nasce ele continua em rápida e enérgica evolução. De tal forma que a alimentação, as condições ambientais e as ligações afectivas com a mãe e as outras pessoas influenciam activamente no seu desenvolvimento. E, claro, um cérebro saudável fornece uma mente brilhante!

Durante a infância podemos fazer muito pelo sistema cérebro/mente de nossos filhos. Eis alguns conselhos que considero pertinentes.

1. Alimentação é crucial!
O cérebro é o órgão mais comilão que nós temos. Sozinho, consome 25% de toda a energia que nos é fornecida pelos alimentos. A alimentação é, pois, muito importante para um bom funcionamento do cérebro e dos processos mentais (concentração, memória, pensamento, etc.). Dê a seu filho uma alimentação rica em nutrientes saudáveis (vitaminas, minerais, etc.), com bastante fruta, legumes e água. Não o deixe habituar-se à comida fast food, refrigerantes, pastelaria e outras fontes de toxinas.

2. Dormir é também viver!
Geralmente as crianças detestam a hora de ir dormir. Para eles, o ir para a cama é interromper o dia e a brincadeira. Ensine-o a perceber que dormir é também viver, dá saúde, reforça a mente e até pode ser divertido porque o sono é a fábrica dos sonhos. Entre 9 a 10 horas de sono são necessárias para o descanso e o revigoramento do cérebro e da mente das crianças em idade escolar.

3. Respirar fortifica o cérebro! 
Fazer ginástica e desporto ajudam não apenas os músculos a desenvolverem-se mas também o cérebro. O oxigénio alimenta os neurónios, tonifica-os e ajuda a relaxar a mente. Não permita que seu filho fique muitas horas sentado a ver televisão ou preso aos jogos electrónicos. Ele precisa de correr e saltar. Saia com ele, passeie e corra com ele nos jardins e parques que estejam ao vosso alcance.

4. Dê-lhe música! 
As crianças gostam, naturalmente, de música! Mas é bom que aprendam a separar o trigo do jóio. Desde cedo na vida deixe que a boa "música de fundo" invada a sua casa. A música exerce diversos efeitos saudáveis sobre a mente.

5. Filosofia para pensar!
Incentive-o a pensar. Inscreva-o em cursinhos de Filosofia para Crianças ou no nosso Programa Escola de Líderes. Eles ajudam no desenvolvimento da reflexão, do espírito crítico e do pensamento.

6. Provoque a curiosidade!
As crianças mentalmente saudáveis são curiosas. Provoque no seu filho o interesse pelo mundo, a vida, a história da humanidade, a leitura, etc. Filmes, álbuns, enciclopédias e viagens ajudam a manter a curiosidade aberta para as coisas grandiosas do Universo.

7. Meditar para crescer! 
A meditação para crianças é uma forma de crescer espiritualmente. Inscreva-o em cursos de ioga para crianças ou em actividades de expansão da mente que o Instituto da Inteligência (Portugal, Brasil e Paraguay) realiza regularmente.

8. Fluir para ser feliz! Os "estados de fluxo" são momentos de pura concentração e fascinação obtidos através do envolvimento em actividades de muito prazer e contemplação como desenhar, pintar, ouvir histórias, etc. Ajudam na concentração e no relaxamento.

9. Optimizar a mente!
Estimule a imaginação de seu filho, desperte-lhe os sentidos, fomente novos conhecimentos. Através de diversas actividades disponíveis um pouco por todo o país o seu filho pode estimular as actividades cognitivas aprendendo a ler, a estudar um novo idioma, a desenvolver uma arte, etc.

10. Ame-o com verdade! 
As crianças felizes e que se sentem amadas têm melhor sucesso escolar, melhor saúde e são mais felizes. A sua auto-estima é mais forte e a sua personalidade desenvolve-se de forma equilibrada. Ame seu filho de forma honesta: dê-lhe carinho, afecto, protecção, ensine-o a cumprir regras e a ser autónomo. Não seja nem exageradamente severo nem perigosamente permissivo.

Nelson S Lima 

A personalidade e o comportamento


Uma pesquisa efectuada há alguns anos e dirigida pelos psicólogos Alexander Thomas, Stella Chess e H.Birch demonstrou que a maioria das crianças mantem desde o nascimento traços de personalidade que pouco se alteram com a idade.

Verificou-se também que esses traços afectam o tipo de aprendizagem e o tipo de ensino com os quais se sentem mais à vontade. Assim, concluiu-se que para se criar um "ambiente" de aprendizagem eficiente deve-se levar em conta não só o tipo psicológico das crianças como também o temperamento.

Aqueles mesmos investigadores distinguiram 3 tipos principais de crianças cujas reacções são determinadas por diferentes aspectos de traços de personalidade. São eles:

A criança dócil
Caracteriza-se por ter uma inteligência expressiva, ser alegre, geralmente optimista, com padrões regulares no comer e dormir, reagindo aos acontecimentos com intensidade baixa e moderada. Aborda as situações novas com alguma ousadia e é adaptável. Cerca de 45% das crianças pertencem a este "grupo".

A criança difícil
Pode ser um tormento para os pais e os professores, e até mesmo para os colegas. Tem crises de mau-humor, depressão, raiva, lágrimas e uma atitude frequentemente negativa face à vida. Comporta-se com hiperactividade, tem mau comportamento, tende para a desobediência de regras e normas, por vezes é destruidora e desorganizada. Cerca de 30% das crianças incluem-se neste "grupo".

A criança lenta
É menos activa do que a do tipo anterior, revela-se com alguma frequência infeliz ou pessimista, por vezes é rabugenta e tem dificuldade em adaptar-se a situações novas. Tem um ritmo de trabalho abaixo do normal e pode revelar-se preguiçosa. Cerca de 25% das crianças são deste tipo.
Obviamente cada criança merece uma atenção particular para além de que, conforme o tipo a que pertença, existem sugestões para os pais e os professores de forma a proporcionar-lhes o melhor desempenho das suas habilidades.

As crianças pequenas são 
naturalmente egocêntricas. 
Não sabem distanciar-se de si mesmas 
e porem-se no lugar dos outros. 
Devemos ter isso em consideração.

ELAS E ELES APRENDEM DE FORMA DIFERENTE


Eles e elas têm cérebros diferentes na captação e na elaboração da informação. Esta é a conclusão de numerosas investigações nos últimos 15 anos.

Apesar dos mais cépticos insistirem que não há diferenças de maior entre o cérebro dos homens e das mulheres, a ciência continua a descobrir distinções a nível funcional, em especial nas aptidões emocionais e intelectuais.

Produto da evolução genética e da interacção com o meio, as diferenças encontram-se ao nível do pormenor mas traduzem-se por visões do mundo, intelectos, emoções e condutas distintas. Tais diferenças notam-se, por exemplo, na escola onde, de facto, rapazes e raparigas revelam actuações particularmente diferentes tanto nas aprendizagens como nos comportamentos.

Diversas pesquisas atestam a existência de diferenças fisiológicas, tanto no plano anatómico como químico e neuronal. Em situação de teste laboratorial, verificam-se as seguintes diferenças (gerais):

Os rapazes são, em média, melhores, do que as raparigas no raciocínio espacial, no raciocínio matemático, na visualização tridimensional, na detecção de formas complexas e na detecção de alvos. As raparigas são mais rápidas na associação da informação, na percepção visual, na precisão manual e digital, na visão nocturna e na capacidade de persistência.

Na escola, os rapazes demoram mais tempo a aprender a ler, são mais centrados na acção, mais agressivos na resolução de conflitos, melhores na leitura de mapas; elas, geralmente, lêem melhor, são melhores na concentração auditiva, mais hábeis nas tarefas verbais, mais precisas nos trabalhos manuais.

Também o estilo cognitivo é diferente neles e nelas. O estilo cognitivo revela a forma como o cérebro elabora a informação e influencia o modo como as pessoas aprendem, memorizam e elaboram a informação. Eles são mais do Estilo Dependente de Campo e isso torna-os mais propensos a distrairem-se nas aulas; elas são mais do Estilo Independente da Campo, o que lhes permite obter melhores níveis de concentração, independentemente do que se passa em seu redor. Também no tempo necessário para pensar, as raparigas são mais do Estilo Reflexivo necessitando de mais tempo para amadurecer a informação. Eles são mais do Estilo Impulsivo, respondendo em menos tempo mas de forma mais superficial.

Mesmo com idades idênticas, rapazes e raparigas revelam, na sala de aula, capacidades distintas que são devidas às diferenças anatómicas e funcionais do cérebro. Por exemplo, o tamanho do cérebro dos rapazes atinge o seu máximo apenas três anos depois das raparigas, isto é, aos 14 anos de idade. Assim, certas áreas cerebrais atingem a maturidade mais cedo nas raparigas, nomeadamente as que controlam a fluência verbal e a escrita. Todavia, existem capacidades que surgem mais cedo nos rapazes, entre 4 e 8 anos antes das raparigas: é o caso do raciocínio mecânico, da concentração visual e do raciocínio espacial.

Visto que, com as mesmas idades cronológicas, os rapazes e as raparigas apresentam diferenças notáveis nas capacidades de aprendizagem, pode ser prejudicial mantê-los em salas de aula mistas, sobretudo durante o primeiro e o segundo ciclo quando o cérebro apresenta diferenças maiores e está com ritmos de amadurecimento também diferentes.

A inclusão, nas mesmas turmas, de rapazes e raparigas com as mesmas idades, é, assim, susceptível de desmotivar ora uns ora outros conforme os diferentes níveis de dificuldade do cérebro para processar certos tipos de informação que variam de acordo com o sexo.

É por isso que vários especialistas defendem o retorno às aulas separadas a fim de respeitar as diferenças individuais, em especial as geradas pelo sexo (ainda que as escolas continuem a ser mistas).

Mas, mais grave ainda, é o facto de uma das causas do insucesso escolar ser devido a que, nas mesmas salas e anos escolares, poderem estar alunos com até 4 a 8 anos de diferença de maturidade intelectual. 

Nelson S Lima

AS VÍTIMAS DO INSUCESSO ESCOLAR


Um número considerável de pessoas que foram maus alunos nos primeiros 5 e mais anos de escola - e sobre as quais se profetizou o pior - ficaram na história da Humanidade pelo seu contributo como artistas geniais, filósofos, empreendedores, líderes, técnicos e cientistas de renome.

Ainda hoje isso acontece se bem que em menor número porque a sociedade agora filtra os alunos rotulados com "insucesso escolar" e reencaminham-nos para uma sala ou uma instituição de reabilitação académica - uma espécie de oficina de reparações mecânicas.

Apesar dos bons esforços dos professores e pedagogos, um grande número dessas crianças e adolescentes só se "reabilitará" quando se afastarem da educação formal e planificada e puderem dar liberdade aos seus recursos (muitos dos quais a escola nunca consegue detetar porque).

Curiosamente, um dia, numa ação de formação de professores que eu dirigi na Escola Francisco Torrinha, no Porto, um grupo de docentes levantou-se indignado por eu ter dito algo como "o insucesso escolar não determina necessariamente que os alunos terão insucesso na vida, incluindo a profissional".

O tempo deu-me razão quando, 12 anos depois, investigando muitos alunos vítimas de insucesso escolar - atenção que eu disse VÍTIMAS - estavam a sair-se muito bem na vida, muito melhor do que muitos que foram alunos brilhantes!

Nelson S Lima

É A IGNORÂNCIA QUE CONDUZ À EVOLUÇÃO?

Há tempos fui ver o filme "Transcendence - a nova inteligência" onde, quase no fim da história, e em jeito de lição, se diz que as pessoas têm medo do que desconhecem (situação que, em muitos casos, impediu o avanço do conhecimento).

Nesse momento preciso, recordei um livro fabuloso da filósofa e professora de Psicologia da Inteligência SARA PAÍN sobre "A Função da Ignorância" (que é também o título da obra a que me refiro).

Para ela, a ignorância não significa uma falta de saber mas sim uma qualidade do pensamento! Aliás, ela esclarece que a ignorância está na génese do saber! Ou seja, antes do conhecimento tem de haver um não-conhecimento que, numa explicação mais abrangente, ela qualifica como fazendo parte do pensamento, habitando no inconsciente.

De facto, se recuarmos na nossa própria experiência de vida verificamos que deparamos, muitas vezes, com novos conhecimentos de que nem sequer tínhamos a menor suspeita. E isso conduz ao medo do conhecimento (e não tanto do desconhecido porque este não se sabe o que é, e, assim sendo, não se pode ter medo dele, exceto quando já temos sinais e evidências como sucede no caso de doenças em que somos possuídos pelo medo do que a doença possa trazer-nos de sofrimento).

Mas voltemos atrás. Porque é que a ignorância é uma qualidade do pensamento? Parece estranho, não? Ora Sara Paín diz que os nossos pensamentos funcionam como os instintos visto que são eles (instintos e pensamentos) que dão forma à realidade onde nos movimentamos (mesmo quando sejam sonhos, ilusões ou  alucinações).

Os instintos e os pensamentos usam uma ferramenta importante: a memória! Os instintos são ferramentas da memória biológica (já nascemos com eles, devidamente aprendidos) e os pensamentos servem-se da memória cognitiva e emocional para se fazerem e darem forma a ideias. Os instintos ligam-nos ao passado (e à nossa espécie) e os pensamentos ligam-nos ao futuro (mesmo quando os utilizamos para recordar eventos passados).

Assim, a ignorância situa-se algures entre o passado e o futuro. Pode manter-se alojada num dos lados da vida (no passado/presente e/ou no presente/futuro). Ou em ambos. É nesse plano que também pensamos para podermos escolher, decidir e agir.

Então, no plano psicanalítico e simultaneamente biológico, a ignorância é também necessária à inteligência! Ups!

É. É usando a ignorância (como qualidade do pensamento) que o homem procura o saber para reestruturar permanentemente a sua visão (e orientação espacial-temporal) do mundo. E fá-lo observando, buscando, construindo e desconstruindo hipóteses, tentando e errando, como um bebé que, ainda gatinhando, vai descobrindo o mundo impulsionado pela sua "ignorância" (o que o leva a querer saber mais e pensar, mesmo que rudimentarmente, sobre o que vê pela primeira vez).

É assim que a ignorância é uma qualidade do pensamento e uma força impulsionadora do pensamento e da inteligência, funcionando a par e passo com os instintos de onde vem a energia fundamental para uma vida em ação!

Nesta perspetiva, nunca chame, pois, ignorante a alguém. Corre o risco de o ignorante ser você (aqui uso a palavra ignorante como um "não saber").

Complicado? A minha ignorância diz que não.


O futuro da sociedade e da educação!

Prepare os seus para a mudança global, complexa, fantástica e radical que transformará indivíduos, sociedades, mercados, consumidores e negócios.

Mais do que em qualquer outra época da história humana, a preocupação com o futuro beira, por vezes, as raias da obsessão! Não sem razão, diga-se. É que a velocidade dos acontecimentos e a globalização a que hoje estamos sujeitos faz com que a preocupação com o que se poderá passar no futuro imediato ou no futuro mais afastado se justifique.

As mudanças no nosso mundo estão a acelerar em tal velocidade que é lícito (é desejável) que dediquemos uma parte dos nossos pensamentos ao que presumivelmente vai afectar a nossa vida, a dos nossos filhos, a da nossa sociedade, a do mundo em geral.

Até há poucos anos, qualquer autor que se dedicasse a "olhar o futuro" era visto com desconfiança. A palavra visionário, que hoje faz parte do léxico da moderna gestão, era quase sinónima de adivinho. Hoje já tem outra conotação. Visionário é aquele que, estudando as grandes tendências de fundo da sociedade nas suas várias vertentes (culturais, tecnológicas, económicas, políticas, etc.), é capaz de antecipar cenários, definir estratégias e tomar decisões que irão ter um impacto importante na sua área de intervenção. Foram sempre os visionários que provocaram grandes mudanças na sociedade humana.

Os visionários olham para o futuro, trabalham com um horizonte de tempo mais amplo do que as pessoas vulgares. Hoje em dia, eles servem-se dos futurólogos para compreender os caminhos do futuro e tomarem decisões.

O futurólogo ou futurista é um especialista que faz, durante anos, estudos sobre a evolução da sociedade humana e elabora exames de prospectiva tentando aperceber-se para onde estamos a ir.

Tal como a meteorologia, a futurologia moderna recolhe e actualiza a todo o momento o maior número possível de dados que lhe permita construir previsões, mapas de probabilidades e predicções. O futurológo não trabalha como os astrólogos; ele não lê o futuro pois este não está escrito nem nas estrelas nem em lado nenhum. É que o futuro ainda está por acontecer. Então, o futurólogo estuda e capta tendências, especialmente megatendências.

É, frequentemente, um consultor que trabalha para governos, grandes empresas, etc., que, obviamente, querem saber que tipo de mundo muito provavelmente vão encontrar dentro de meses e anos a fim de anteciparem estratégias, desenvolverem novos produtos e serviços, etc.

Alvin Toffler e John Naisbitt, estão entre os mais conhecidos futurólogos lidos em Portugal. Mas um "novo" especialista, já com 30 anos de carreira, de seu nome James Canton, presidente executivo do Institute for Global Futures, um laboratório do futuro com sede na Califórnia, acaba de lançar uma obra fundamental: The Extreme Future, que em Portugal leva o título de Sabe O que Vem Aí?.


Conforme escreveu a prestigiada revista Forbes, trata-se de "um belíssimo trabalho sobre as tendências que moldarão o futuro". James Canton acredita que o nosso futuro será sobretudo influenciado pelas seguintes dez grandes tendências: a globalização; os novos combustíveis; a medicina; as alterações climáticas; as novas descobertas da ciência; o futuro das pessoas; a economia da inovação; a nova força laboral; as questões de segurança e o futuro de alguns países (nomeadamente os Estados Unidos e a China).

O livro de J. Canton, com perto de 400 páginas, é quase uma história não improvável do futuro onde os nossos filhos vão viver e trabalhar. O futuro será deles mas somos nós, os adultos, quem está a orientar as transformações. Em parte. Um livro que recomendo especialmente aos pais de crianças e jovens de elevado potencial e talentosos.

Nelson S Lima 

COMO MELHORAR AS APRENDIZAGENS

NOVAS DICAS DA NEUROCIÊNCIA

Ao fim de alguns anos de estudos e experiências científicas chegou-se à conclusão que as aprendizagens, em especial as académicas, são mais fáceis, eficazes e duradouras se adaptarmos os processos e as estratégias de ensino à natureza e ao modo de funcionamento do cérebro.

Vejamos:

- o cérebro é um eficiente órgão de aprendizagem através da qual constrói os mecanismos de adaptação ao meio, incluindo a inteligência;
- novas aprendizagens são altamente responsáveis pelo desenvolvimento do cérebro enquanto órgão, prolongando a sua agilidade (plasticidade neural) e mantendo-o em modo de "funcionamento ótimo" durante mais anos;
- a aquisição regular de novas aprendizagens ajudam na longevidade do cérebro e na eficiência das atividades cognitivas como a perceção, o processamento da informação, os diversos tipos de pensamento e da memória, o juizo crítico, a criatividade, o planeamento e a manutenção da flexibilidade mental.

A ter em atenção:

- uma certa dose de stress é benéfica para aprender melhor na medida em que favorece a concentração, o processamento de novas aprendizagens e o exercício do pensamento (incluindo a elaboração de cálculos);

- doses excessivas e/ou crónicas de stress impedem a aprendizagem e são responsáveis pela desmotivação e o insucesso escolar (este tipo de stress, conhecido como "distress" provoca a secreção de químicos chamados glicocorticóides que afetam o hipocampo - uma estrutura interior do cérebro necessária à memorização;

- o mesmo distress bloqueia também a memória impedindo a recordação de conhecimentos adquiridos (situação que se verifica frequentemente em situações de avaliação como testes e exames);

- contar pelos dedos, como se fazia antigamente, favorece o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem do cálculo (sabe-se agora que as mãos, em especial os dedos, estão ligados às operações mentais de aritmética);

- a repetição de dados (palavras, números, etc.) ajudam na aprendizagem porque uma estrutura do cérebro chamada "giro angular esquerdo" é estimulada, favorecendo a atenção, a compreensão e a memorização mais rápida;

- o cálculo mental pode ser melhorado se se utilizarem suportes pedagógicos como desenhos, jogos e puzzles porque as áreas do cérebro envolvidas nos processos matemáticos são as mesmas que as usadas pela inteligência espacial;

- a correção de erros (aceitando o erro como uma ferramenta essencial para aprender) ajudam a aprender melhor pois facilitam a reconstituição de saberes eliminando mais facilmente dados errados já adquiridos (o cérebro não apaga facilmente conhecimentos antigos enraizados e isso explica porque quanto mais avançamos na idade mais dificuldades temos para aceitarmos novos saberes que anulem os anteriores);

- o ritmo das aprendizagens deve ser o mais regular possível porque o cérebro tem dificuldade em lidar com desfasamentos horários e quebras de ritmo; por exemplo, cinco dias de aulas é melhor do que que quatro dias de aulas seguidos de um fim de semana de três dias (isso explica porque nas segundas-feiras a capacidade de aprendizagem é mais baixa do que as quintas-feiras, por exemplo); ou seja, os intervalos entre aprendizagens não devem ser longos sob pena de os alunos sofrerem de dessincronização;

- no respeita ao tempo de aulas sabe-se que o ritmo ideal, ao longo de cada ano, é de 7 semanas de aulas com um intervalo de 2 semanas de férias e assim sucessivamente até à mudança de ano lectivo;

- o famoso método global de aprendizagem de leitura mostrou-se cientificamente menos válido do que a aprendizagem silaba a sílaba; isto tem a ver com o funcionamento das áreas cerebrais envolvidas na aprendizagem da linguagem, nomeadamente a "área de Broca", o "girus angular" e a "área de Wernicke"; novos estudos confirmaram que o método silábico é o mais 

Nelson S Lima 

A (falta de) criatividade na educação académica!

Nem só de conhecimento
vive o nosso intelecto!

Com raríssimas exceções, continua-se a não valorizar a criatividade como uma "disciplina" que deveria ser ensinada nas escolas. A inteligência criativa (segundo Sternberg) ou também chamada inteligência criadora (Marina) é uma mais valia da ciência do espírito. Vale também muito dinheiro, mais possibilidade de emprego/trabalho e poder (tanto ou mais que o conhecimento). Uma boa ideia na hora e local certos podem transformar tudo. 


Juntamente com o conhecimento e a inteligência (analítica e prática) tornam-se em algo muito poderoso.

No ensino, a criatividade devia ser desafiada, analisada, investigada e aplicada nos alunos (individualmente e em grupo). Quando é que isso vai acontecer?

Nelson S Lima

Como educar crianças independentes e responsáveis


É possível educar crianças autodeterminadas, desenvolvendo e estimulando atitudes simples e quotidianas de atenção e observação internas. São sete estratégias para desenvolver tais qualidades:

1.Criar um ambiente familiar favorável às decisões independentes.
2.Ensinar às crianças como desenvolver um diálogo interno produtivo e evitar a auto-ilusão e racionalizações.
3.Treiná-las a pensar nos outros.
4 Ensiná-las a desenvolver e a confiar em sua intuição.
5.Utilizar estratégias de aconselhamento que encorajem a autodeterminação.
6.Ajudar as crianças a desenvolver habilidades de auto-recuperação após derrotas, de modo que permaneçam autodeterminadas.
7.Ensiná-las a lidar com diferentes influências externas de modo autodeterminado.

As ameaças e as dificuldades enfrentadas pelas crianças na sociedade contemporânea derivam de uma única fonte: estamos a criar os nossos filhos para se orientarem pelo mundo externo, e não pelo interno.

Estamos ensinando-os a fazer opções na vida para obterem aprovação e aceitação dos outros. Com isso, os nossos filhos renunciam ao único dom que eleva seres humanos acima de todos as outras criaturas vivas – a capacidade de raciocinar por si mesmos.

Imagine, por um momento, como seria o mundo se todas as crianças fossem auto-orientadas: teríamos pessoas com capacidade de avaliar os seus pontos fortes particulares, traduzi-los em papéis significativos e contribuir para a vida de suas comunidades.

UMA OUTRA QUESTÃO

Por que é que algumas crianças que nasceram e viveram em bairros muito pobres tornam-se adultos produtivos, homens e mulheres de bem? É claro que a resposta é bastante complexa. Mas será que não passa pela autodeterminação dessas pessoas, que não se deixaram contaminar pelos outros (comportamentos, hábitos errados, etc.), caminho seguido por muitos por ser o mais fácil? Quer dizer que alguém lhes ensinou princípios e valores, enquanto que as outras não tiveram a mesma sorte.

Compare isso com um mundo orientado para o exterior, em que as pessoas se viram do avesso para conseguir as melhores posições, pisando os outros e ignorando os próprios princípios morais ao longo do caminho. Imagine que está ao seu alcance, como pai ou educador, decidir qual desses caminhos a humanidade vai trilhar!

É claro que não é nada fácil, mas conheça algumas ferramentas que vão lhe ajudar nesse desafio:

•  Você - pai ou mãe - precisa de ser um modelo de comportamento. Não faz sentido longos sermões sobre os perigos das drogas enquanto você fuma, por exemplo Lembre-se: as coisas têm de fazer sentido e ser significativas para que o diálogo interior das crianças seja claro, eficiente e viável.

•  Você pode ensinar os seus filhos a resolver os conflitos delas com os outros pacificamente. Precisam de aprender que a violência nunca é uma solução aceitável para um problema!

•  Preste sempre atenção nos sites que as crianças visitam na Internet. Se tiver de vigiá-los, vigie-os agora!

•  Tente não sobrecarregar a agenda de seu filho para que não se torne um “mini-stressado”. Esteja à disposição deles para interagir, para criar um vínculo profundo entre vocês.

•  Ensine valores de verdade aos seus filhos. Que eles se sintam amados pelo que são, e não pelo que têm. Eles devem entender que os bens materiais são um subproduto – e não a causa – da felicidade, e são coisas a serem divididas e desfrutadas com os outros.

•  Ensine aos seus filhos o real sentido do sexo: a expressão suprema do amor entre duas almas, e que o sexo é natural e belo. Não é uma forma de escapar ao tédio ou uma busca por prazer. Eduque seus filhos sobre as desvantagens e os perigos da irresponsabilidade sexual.

•  Ensine aos seus filhos que a verdadeira atracção não vem de um corpo e rostos perfeitos nem de uma roupa de marca famosa, mas da auto-expressão, da criatividade, da auto-aceitação e da capacidade de mostrar amor, afeição e intimidade.

Se conseguirmos criar os nossos filhos com uma atitude cooperativa, eles podem crescer e mudar a sociedade, fazendo com que ela deixe de ser um monte de adversários e passe a ser um monte de amigos. Pode parecer utópico, mas está nas nossas mãos!

Nelson S. Lima

Porque é que as crianças não aprendem?

Fazê-lo passar o dia a estudar não ajuda necessariamente o seu filho. Numa altura em que as dificuldades escolares estão a aumentar em Portugal, um especialista ajuda-a a tornar o seu filho num bom aluno... e feliz!
A maior parte das dificuldades surgem por desmotivação, não por incapacidades neurológicas: a conclusão é de Nelson S Lima, neuropsicólogo clínico em Inglaterra e professor da Faculdade de Ensino Superior do Nordeste, no Brasil, que há anos vem organizando estudos, orientando professores, apoiando as crianças e chamando a atenção para a ineficácia do actual sistema de ensino.

'As crianças sentem-se perdidas e não percebem para que serve a escola. Tal como os incêndios e os desastres de automóvel, acho que também na escola estamos em estado de calamidade nacional.'

O alerta já foi lançado: um em cada três alunos portugueses tem dificuldades de aprendizagem, número escandaloso para qualquer país e que, ainda por cima, tem tendência a aumentar.

'Há uma quase obsessão em querer ensinar muita coisa às crianças em pouquíssimo tempo', nota Nelson S Lima. 'O que a escola devia fazer nos primeiros anos era dar noções gerais do que é a vida. Mas um aluno de 12 anos tem 15 disciplinas! Como é que pode aprender alguma coisa?' Quinze disciplinas que depois se reflectem na forma desmesurada como acontecem os trabalhos de casa. Estranhamente (ou talvez não.), e segundo um estudo europeu, somos um dos países com piores resultados escolares e o país europeu que mais tempo dedica aos trabalhos de casa.

O neuropsicólogo conta o caso de uma criança de 11 anos que lhe chegou com uma estranha missão: 'Passou o dia aflitíssima porque tinha de fazer um trabalho sobre a Bósnia-Herzegovina. E sobre o Alentejo é capaz de não saber nada. Entretanto, o irmão estudava exaustivamente a Albânia. Isto tudo, feito desta forma, é um disparate pegado!' Tudo somado, contribui para o stresse diário de muitas famílias.

Pais com tempo e cultura suficientes ou dinheiro para pagar a explicadores são capazes de dar uma ajuda. Mas muita gente se sente aflita. 'Os miúdos vêem-se a braços com imensa informação que se refugia em palavrões. 'Um buraco negro é conhecido como um sorvedouro cósmico', para miúdos de 11 anos, acha normal?', questiona Nelson S Lima. 'O importante era dar-lhes algumas noções básicas, mas bem dadas. Actualmente, com tanta matéria que lhes impingem, qual é o resultado? É que não fica lá nada! Eles não sabem nada do mundo! E esta é a geração que há-de chegar um dia ao poder!'

É URGENTE ESCLARECER

A obsessão de querer ensinar tudo em pouco tempo faz com que estejamos a cultivar a ignorância, por recusa inconsciente em aprender. 'A ansiedade e o stresse estão a aumentar de forma assustadora nas crianças. E muitos pais, embora se queixem destas anomalias, são os primeiros a defender o modelo de escola actual, porque é a escola que eles próprios tiveram', revela Nelson S Lima.

Resolver as coisas passaria por reduzir a carga programática. 'Aligeirar as coisas não seria retirar qualidade, seria dar às crianças mais tempo para falarem sobre o mundo delas e acrescentar coisas que faltam: ensiná-las a pensar e a estudar. Tornar as crianças seres pensadores.' Isto evitaria percursos de aprendizagem trágicos e completamente destruidores de vidas, evitaria, por exemplo, que tanta gente chegasse à universidade com a impressão de que escolheu o curso errado. 'A educação emocional deveria ser uma disciplina mais importante que a Moral. As crianças conhecem-se muito pouco a elas próprias. Elas nunca sabem dizer quem são, não conhecem as suas próprias virtudes e qualidades. E isto é perigosíssimo.'

Nelson S Lima propõe mudanças que podem ser feitas pelos próprios pais, pois mudar o sistema de ensino é mais complicado: 'Podemos ajudar as crianças a organizarem-se de modo a que não fiquem muitas horas a estudar. Vinte minutos com um intervalo de dez minutos, depois mais vinte minutos.'

E, principalmente, fazer tudo para que pelo menos o fim-de-semana fique livre de trabalhos. 'Fujam dos shoppings, vão apanhar ar livre, vão passear a parques, jardins, montanhas, vão para onde quiserem mas que seja ao ar livre e onde possam correr. O importante é quebrar a rotina para diminuir os níveis de stresse que estão a aumentar cada vez mais nas crianças. É a única forma de os defender. O resto teria de levar uma volta inteira, por forma a implantar medidas inteligentes não tão ambiciosas sob o ponto de vista académico. Isto já não vai com uma reforma, mas com uma revolução!'

in revista ACTIVA, 16 ABRIL 2012